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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pricipais Teorias e Conceitos de Nietzsche


Eterno retorno 

Eterno retorno é um conceito filosófico formulado por Friedrich Nietzsche. Em alemão o termo é Ewige Wiederkunft. Uma síntese dessa teoria é encontrada em A Gaia Ciência:
"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

Conceituação

Eterno Retorno é um conceito não acabado em vida pelo próprio Nietzche, trabalhado em vários de seus textos (No "Assim falou Zaratustra"; aforismo 341 do "A gaia ciência"; aforismo 56 do "Além do bem e do mal"; e trechos dos fragmentos póstumos, que podem ser encontrados no livro "Nietzsche" da coleção "Os Pensadores", da Abril Cultural). Ele mesmo considerava como seu pensamento mais profundo e amedrontador, que lhe veio à mente durante uma caminhada, ao contemplar uma formação rochosa.
Um dos aspectos do Eterno Retorno diz respeito aos ciclos repetitivos da vida: estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente, e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, etc.
O que é indispensável notar é que esta teoria, que parece insensata e totalmente inverossímil a muitos, não é uma forma de percepção do tempo: o Eterno Retorno não é um ciclo temporal que se repete indefinidamente ao longo da eternidade.
Quando no texto, acima transcrito, de A Gaia Ciência, o filósofo sugere a aparição do demônio portador da reveleção do ciclo inexorável de repetições, ele não afirmou que aquilo seria exatamente o Eterno Retorno. Nos textos de Nietzsche sobre a História, vemos que sua noção do Tempo não é cíclica.
Com o Eterno Retorno Nietzsche questiona da ordem das coisas. Indica um mundo não feito de pólos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma—múltipla, mas única—realidade. Logo, bem e malangústia e prazer, são instâncias complementares da realidade - instâncias que se alternam eternamente. Como a realidade não tem objetivo, ou finalidade (pois se tivesse já a teria alcançado), a alternância nunca finda. Ou seja, considerando-se o tempo infinito e as combinações de forças em conflito que formam cada instante finitas, em algum momento futuro tudo se repetirá infinitas vezes. Assim, vemos sempre os mesmos fatos retornarem indefinidamente.
Outras observações importantes a respeito do Eterno Retorno são suas relações com o Amor fati e a vontade de potência. Detenhamo-nos ligeiramente no Amor fati -- Amor ao destino.
O conceito do Eterno Retorno, em decorrência da orígem cristã do filósofo, é um semi-plágio do "nada se repete debaixo do sol" profetizado por Salomão, leva a uma indagação sobre a vida: amamos ou não amamos a vida? Se tudo retorna - o prazer, a dor, a angústia, a guerra, a paz, a grandeza, a pequenez—se tudo torna, isto é um dom divino ou uma maldição? Amamos a vida a tal ponto de a querermos, mesmo que tivéssemos que vivê-la infinitas vezes sem fim? Sofrendo e gozando da mesma forma e com a mesma intensidade? Seríamos capazes de amar a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querer vivê-la tal e qual ela é, sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso destino? - Eis a grande indagação que é o Eterno Retorno.

O profeta do anticristo

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I – Considerações gerais

1. A teoria de Nietzsche – se é que podemos falar numa teoria – pretende ser cosmológica, assim como os filósofos pré-socráticos se caracterizaram globalmente por uma visão cosmológica do mundo que se reflectiu nas suas filosofias. A sintonia entre Nietzsche e os pré-socráticos é evidente, e a antipatia de Nietzsche pelos socráticos que seguiram um tipo de visão ontológica do mundo, também é real. Portanto, qualquer ideia de algo, ou tudo, que possa defender a existência de alguma coisa ou entidade para além do perceptível pelos nossos sentidos é violentamente refutado por Nietzsche, embora os pré-socráticos não tenham adoptado uma posição anti-ontológica como Nietzsche claramente fez.
Na sua visão cosmológica, Nietzsche assume uma posição romântica sobre o Infinito que se opõe ao Idealismo e aos valores da Ontologia tradicional (no sentido metafísico).

Primeira conclusão: Nietzsche era religiosamente ateu. 

2. Não podemos falar numa “teoria de Nietzsche”, porque a sua doutrina – porque é de uma doutrina que se trata – liga-se a diversas correntes ideológicas sem se filiar em nenhuma: para além da fonte cosmológica pré-socrática, adoptou – em simbiose – o “evolucionismo”, o “irracionalismo”, a “demonologia”, a “filosofia da vida”, etc. Portanto, não existem dúvidas de que, sendo eu cristão, as minhas críticas a Nietzsche são perfeitamente compreensíveis, e de que Nietzsche não conseguiu resolver o problema ético e moral da sua doutrina que pretendia ser totalmente original e diferente das influências filosóficas que recebeu.
Nietzsche quis propor uma nova doutrina de técnica de valores – os “valores vitais” – que se aplicassem nos planos antropológico, moral e ético, e foi esta doutrina que esteve na base do materialismo filosófico antropocêntrico que se cimentou ao longo do século XX e o transformou num morticínio em escala nunca vista na História da Humanidade.
Segunda conclusão: a teoria de Nietzsche é uma doutrina ideológica em manta de retalhos, e não uma filosofia coerente, como a de Kant, Fichte ou Hegel, por exemplo.
3. Se podemos afirmar com segurança que a apropriação, por parte da doutrina nazi, da doutrina do “super-homem” de Nietzsche, é abusiva, não existem dúvidas de que Nietzsche defendia a “aristocracia absoluta”, isto é, a aristocracia da total e indefectível superioridade dos aristocratas sobre a ralé – o que deu muito jeito aos nazis para aplicarem a doutrina de Nietzsche a uma noção de “raça superior” ariana.
De igual modo, é abusiva a interpretação que se dá à doutrina de Nietzsche de um estetismo hedonístico e decadente, porque o carácter cruel e trágico que Nietzsche dá à Vida são exactamente o contrário de uma visão hedonista.
Terceira conclusão: a doutrina de Nietzsche é precursora da “filosofia” moderna e pós-moderna como instrumento de acção política que explícita ou implicitamente justifica e defende a validade ética e moral do totalitarismo, já não pode ser encarada com simples “contemplação” filosófica, e tem sido sucessivamente adoptada e reinterpretada ao sabor de diferentes interesses políticos totalitários ao longo do século 20.
II – A Doutrina (O Culto de Dionísio)
1. Diga-se que Nietzsche se apresentou, ao longo da sua obra literária, como imbuído de um espírito messiânico e predestinado:
“A minha verdade assusta porque até agora se chamou verdade à mentira. Inversão de todos os valores; eis a minha fórmula para um acto de supremo reconhecimento de si, de toda a humanidade, acto em que em mim se tornou carne e génio. O meu destino exige que eu seja o primeiro homem honesto, que eu me sinta em oposição às mentiras de vários milénios.” – In “Ecce Homo”

Portanto, Nietzsche assume-se como uma espécie de Messias que vem dizer ao mundo que as religiões milenares, desde o Budismo ao Cristianismo, não passam de mentiras pegadas (a propósito, o mesmo tipo de argumentação que o filme “Zeitgeist” propõe), e por isso, não podemos deixar de responder a Nietzsche no mesmo diapasão ideológico, dizendo que a “verdade” de Nietzsche não é dele, porque de milénios antes dele sempre fomos tendo notícias da tese Nietzscheana através do que se convencionou actualmente chamar de “verdade luciferina”, invocando Lúcifer.
A tese de Nietzsche é uma cópia trabalhada do Luciferismo milenar, embora com algumas diferenças – por exemplo, quando Nietzsche ataca a própria ciência, porque segundo ele, a ciência não está longe do ideal ascético do cristianismo quando adora a verdade objectiva, através de um estoicismo intelectual e científico que proíbe o SIM e o NÃO absoluto em relação à realidade, e quando se atém aos factos e renuncia à interpretação subjectiva destes. Em Nietzsche, nem a ciência escapa à fúria do louco.
2. Nietzsche foi muito influenciado – pela negativa – por Schopenhauer, com quem discordou desde tenra idade. Naturalmente que Schopenhauer foi um hipócrita que defendeu o ascetismo metafísico enquanto frequentava os prostíbulos mais requintados e os melhores restaurantes da sociedade do seu tempo. Perante a radicalização ascética e metafísica de Schopenhauer, Nietzsche responde com o radicalmente oposto, isto é, responde a uma aberração com outra aberração, não compreendendo – ou não querendo compreender – que a religião não é, nem poder ser, e conforme está implícito na ideia de ascetismo, a negação da vida vivida racional e plenamente pelo ser humano.
Assim, a verdadeira religião – a tal que se opõe ao ascetismo de Schopenhauer –, segundo Nietzsche, é a religião dionisíaca, isto é, baseada no deus grego Dionísio como sendo “ a afirmação religiosa da “vida total”, “não renegada nem dilacerada”. De certa forma, Dionísio é um substitutivo de Lúcifer, um Ersatz ideológico que Nietzsche encontrou para explanar uma teoria luciferina velha de milénios, de que nos chegaram ecos dos Antigos Impérios e do Egipto Antigo dos faraós, passando pela Antiga Grécia e pela Idade Média. Por exemplo, Nietzsche dá à virtude cristã o significado amoral vigente no Renascimento italiano: para Nietzsche, a virtude cristã é algo de profundamente imoral. Existe de facto uma completa inversão de valores, e é essa inversão de valores de que consiste o niilismo de Nietzsche.
3. Nietzsche coloca a posição do Homem perante a vida em duas situações extremas, e só nessas duas situações extremas se poderá, segundo Nietzsche, viver a vida: a) ou a vida ascética de Schopenhauer, a que chama de “renúncia ou fuga”, ou b) a aceitação da vida com as suas características originárias e irracionais, a total e indefectível valorização do instinto animal no Homem, sendo que Dionísio é o símbolo desse instinto animal originário e Zaratustra o profeta-filósofo da religião dionisíaca. É neste maniqueísmo bipolar de Nietzsche que reside muito da sua irracionalidade.
O espírito dionisíaco de Nietzsche é diametralmente oposto à aceitação da bondade humana, dos valores da solidariedade entre os seres humanos, da humildade do Homem perante o Desconhecido, sendo que estes valores, segundo Nietzsche, são a negação da religião dionisíaca e pertencem às religiões tradicionais.
Segundo a religião dionisíaca de Nietzsche (na minha opinião, luciferina), a aceitação integral da vida, de tipo WYSIWYG (What You See Is What You Get), transforma a dor em alegria, a luta em harmonia, a crueldade em justiça, a destruição em criação. Qualquer esforço em contrariar o instinto animal presente no ser humano é contrário à religião dionisíaca e a Zaratustra, o seu profeta. O deus luciferino de Nietzsche, Dionísio, tende para uma visão trágica da vida interior do Homem que se reflecte na sua visão exterior: Dionísio só se compraz com o espectáculo terrível e catastrófico do mundo, ama o destino terrível em si mesmo e o luxo em que consiste a destruição, a desagregação da vida e do mundo; a malvadez, a insânia e a brutalidade fazem parte da “superabundância vital” que é glorificada por Nietzsche.
4. Segundo a religião dionisíaca de Nietzsche, os homens devem ignorar o passado e construir o Homem Novo (onde é que eu já ouvi isto?! Nazismo? Marxismo cultural?) para quem o futuro é tudo e o passado é nada, e é ao futuro que cada um dos “homens novos” quer chegar em primeiro lugar e, portanto, à frente dos outros homens (a ideia de “sucesso” e de “superioridade evolucionista” neoliberal), ignorando, contudo, a morte. Nietzsche rejeita a ideia da morte, porque é a única forma de justificar a crítica que faz ao cristianismo. Nietzsche faz de conta que a morte não existe, e rejeitando a ideia da morte, ele rejeita a finitude humana.
III – O Cristianismo (como o “ópio do povo”)
O termo supracitado é de Marx, mas Nietzsche tem a mesma noção acerca do cristianismo: trata, segundo ele, de uma forma de controlar o povo por parte de uma aristocracia instalada. A moral cristã é fruto da revolta dos indivíduos inferiores (como é o meu caso, segundo Nietzsche), é fruto da revolta das bestas, e das classes submetidas e escravas, em relação à casta superior e aristocrática a que Nietzsche orgulhosamente pertence. A moral cristã é uma moral de revolta que encontra “uma compensação numa vingança imaginária” no “outro mundo”, de ressentimento contra os aristocratas poderosos e intelectualmente superiores. Em contraponto, a moral dionisíaca e aristocrática de Nietzsche é superior à moral cristã porque nasce de uma afirmação triunfal em si mesma, que se autoproclama superior a tudo e todos sem necessidade de comparação com nada que se lhe oponha dialecticamente, ao passo que a moral das bestas e dos escravos cristãos – num único e exclusivo acto de criação – é inventada para que assim se justifique a sua inferioridade existencial e intelectual. Segundo Nietzsche, o cristão é um ser execrável, intelectualmente inferior, moralmente imundo, e que pode e deve ser usado – e mesmo exterminado – a bel-prazer pela aristocracia dionisíaca.
Segundo Nietzsche, os puros de coração, os homens solidários com os outros homens, os homens caridosos e os que sentem compaixão pelo seus semelhantes, as almas belas que se vestem poeticamente da sua virtude, são essencialmente seres ressentidos e inferiores, carregam consigo o tal espírito de vingança contra os homens superiores e aristocráticos que encarnam a riqueza e o poder. O “homem bom”, segundo a moral cristã e na opinião de Nietzsche, é um homem que foge à realidade, enquanto que outro alguém que não foge à realidade, que não fecha os olhos perante a realidade e que a encara conforme ela é – cruel, terrível, insana e irracional – terá que ser sempre um homem mau, e por isso, um homem superior. O homem mau, vingativo, cruel, é o ideal de Nietzsche: os maus herdarão o mundo, e não os “bem-aventurados simples de espírito” dos Evangelhos. Por isso, o homem mau, segundo o cristianismo, é o homem bom, segundo Nietzsche.
O Homem Novo, segundo Nietzsche, é terrestre, exclusivamente corpóreo, anti-espiritual, irracional, cruel, orgulhoso e vingativo, e autoproclamado superior e aristocrático.
“O meu Eu – diz Zaratustra – ensinou-me um novo orgulho e ensino-o aos homens: não enterreis a cabeça na areia das coisas celestes, mas levantai-a altivamente, uma cabeça terrestre que cria o sentido da terra” (…) “Eu sou inteiramente corpo e nada mais – diz Zaratustra: a alma é apenas uma palavra que indica uma partícula do corpo”.
Se lerem alguma coisa sobre a demonologia luciferina, encontrarão certamente paralelos tão evidentes com isto que não o podemos considerar como simples coincidência.

Poderia ainda referir aqui a concepção absurda de Nietzsche sobre a Arte, ou sobre o Eterno Retorno que se inspira em Parménides e nos eleáticos pré-socráticos, ou no “Amor Fati”, no “Super-homem” e no conceito de “personalidade impossível” segundo Nietzsche que o define como um louco mesmo antes da loucura e o irracional o terem tomado completamente – mas o texto já vai longo de 2.000 palavras. Ficará para outra ocasião.
De tanto criticar o “pessimismo cristão”, Nietzsche não fez outra coisa que não a prática do pessimismo em forma doutrinal. O “optimismo realista” dionisíaco de Nietzsche é teórico, é uma ânsia do seu ser, é uma aspiração que não se verifica nunca em termos reais. Há tanta coisa contraditória em Nietzsche que quem o souber ler o poderá considerar patético, e mais patético ainda será quem não o soube ler e o tenha adoptado, consciente ou inconscientemente, como um paradigma ideológico – como existem por aí alguns bloggers bem-falantes e de prosa fácil. E para quem gostar da doutrina luciferina de Nietzsche, dou um conselho: procure urgentemente um psiquiatra, porque poderá acabar como acabou a insanidade do seu paradigma.

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